sábado, 29 de maio de 2010

Bilhete

E se eu encostar a mão em teu peito é só vontade de me ligar ao teu coração. Num instante assim. No meio das luzes. Entre as paredes do mundo.
Nos teus olhos eu fixo o que importa.
Quando eu te sorrir com meus dentes amarelos: é que sou tão mais feliz.

para H.

domingo, 23 de maio de 2010

Um pequeno instante

É de sorrir esse instante, seja pelo que levo na mão ou o que levo em coração. E se acender a luz ainda se vê: o instante que eu aperto até quase sufocar nessa ânsia de respirar felicidade.
Eu ligo o ventilador para o ar me chegar melhor.
E o cheiro de café se acaba em mim.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tomara

Eu respiro bem fundo. Daquelas respirações de olhos fechados onde você se sente protegido do mundo. Mas quase não me entra ar, pois estou cheio. Não me entra comida direito, não me entra amor, não me entra quase nada, pois estou cheio. E preciso primeiro esvaziar para que algo novo, ou mesmo antigo, caiba em mim.
O que tenho aqui é um choro de tão antes. Cada coisa me acumulava um punhado de lágrimas. Coisas às vezes tão antigas que não me lembro mais o que foram. Não sei bem porque retenho tanto choro. Apenas sei que passei por várias coisas aonde o choro me veio na ponta da língua e sem razão eu o engoli.
Tem horas que penso que não agüentarei e vou cair no meio da rua em prantos. E que quando me perguntarem o porquê, direi: “estou apenas me deixando esvaziar, me derretendo nesse asfalto”. Não, isso não seria ruim. Porque aí eu estaria tão vazio de tristezas que poderia respirar tão mais e sentir o mundo tão (tão) mais. Levantaria talvez mais forte do que agora, talvez mais feliz do que agora, talvez mais eu do que agora.
E o que eu mais quero é ser apenas eu.

domingo, 9 de maio de 2010

Necessidade

Ultimamente meus pés estão tão no chão. Estou tão ligado ao que é real. Tudo está dentro de mim e preciso soltar o que me sufoca, o que me quer explodir: uma necessidade de sonhar.
Estou desfantasiado e eu não sou assim. Quem entende meus olhos sabe do que eu sou: do que não existe, de fantasias, ilusões. Porque é difícil sentir o mundo tão diretamente (logo eu que tenho a pele tão transparente).
Ando pelas ruas sempre atento porque toda essa realidade me dá medo, mas a minha vontade é apenas de seguir com os olhos fechados me guiando pelos sons que me são penetráveis. Com os olhos fechados fingir que apenas sou eu. É que assim eu mais imagino. Eu mais imagino o que realmente quero ser, o que mais quero ter ou o que mais quero ver.
E no meio da rua entre olhares ameaçadores e inabitáveis o céu parece ser mais seguro, porque parece ser infinito. Tem a suavidade e a força certa. E estar nesse céu é estar infinito como ele.
Então paro no tudo e me torno leve, verdadeiramente. Mesmo. E o ar que me entra tão fortemente, me sai tão fortemente e nesse dançar se faz vento. Por assim é só esperar esse vento me alçar vôo – apesar do chão querer me prender. É só esperar por um começo de irrealidade.
O vento me cria asas.
Eu preciso voar.