domingo, 20 de novembro de 2011

as linhas dela

Ela já não quer mais essa casa vazia, paredes brancas rabiscadas de tantas palavras soltas, sem nexo, sem hora. Nada se forma, parece não haver amor no que escreve. Tudo solto, aberto e insípido. Ela coberta de casa – palavras mortas.
Essas horas tudo deveria estar diferente, mesmo a parede principal estando intacta. A inatividade de tudo lhe sufoca. O tudo que é o mesmo tudo desde que vive. Caminha nua pela casa, entre pés e pontapés. Dentro: raiva nas entrelinhas de seu sangue: ferve!
Ela quer, ela – em impulso – se fere, sangra as palavras e de dor. De dor tudo vive ou reagi. Mas se tudo fosse vivo ela não estaria tão morta. As palavras não viveram para lhe viver, mas para lhe sufocar.
Oh, mulher! Foste infiel a algum sentimento ou ao tempo? Não foi o tempo que não correu, foram teus pés sujos. O tempo te engolirá como a essa sua casa, ou as palavras te comerão agora. Inundam-te a pele e estás encharcada. Não agüentas o peso: elas te cansam, tu te cansas e o chão parece tão lar.
Ela estendida no chão – o frio. Rasgou os poemas versados. Até amanhecer.
Quando de um novo dia, ela não era mais poeta.
E o mundo era novamente poético.