sexta-feira, 27 de abril de 2012

natimorto

Henry Ford Hospital (La Cama Volando) - Frida Kahlo - 1932
Quão triste é ver um filho morto enquanto ainda sai de meu próprio corpo. Ainda banhado no líquido das vísceras, ainda levando-as apregadas. Parece inútil o esforço que fiz para contrair, para a respiração, para o sopro de sangue que lhe dei.
Houve a morte pelo próprio umbilical ou a infecção pelo que é vida.
E agora, padece ali o já fétido resto. Não o enterro. Não há necrológio. Guardo-o, impróprio. Na terceira gaveta, pois ainda é parte de mim. Até que haverá o dia que não exalará mais catinga.
Não é a primeira vida que meu corpo aborta por não sustentar.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

afinal

Quando o adeus fez-se grande demais, eu me trouxe aqui. Para pormos um ponto final ao tudo (ou o inverso), ou para que abrigues a poeira de minhas malas. Um pouco me importa onde ficarão meus discos, minhas histórias em quadrinhos, meus livros. Já minhas roupas, eu nada me importo. Jogue-as numa caixa de papelão, debaixo da cama.
Trouxe uma violeta: para a nossa casa ou para o final.