sábado, 30 de janeiro de 2010

Permissão

Será que para dizer ‘eu te amo’ a alguém preciso perguntar se posso fazê-lo? Pedir permissão? Aqui se tem um caso diferente, já que esse amor não é novidade, já que esse amor já foi declarado. Já que sabem que amo. Então, será preciso mesmo perguntar?
Sinto uma vontade constante de dizer ‘eu te amo’, principalmente quando é tarde da noite e não há nada para se fazer a não ser esperar que o sono chegue. Em um breve telefonema dizer ‘Eu te amo!’ suavemente. É que é calada de noite. E a casa se mantém em silêncio. E meu coração se mantém ativo.
‘Eu te amo!’, quero dizer, ‘te amo’. Resumidamente assim. Deve ser curto assim para que não ocorra excesso.
Mas é que se telefono e falo ‘te amo’, sempre esperam mais. Esperam que dali aconteça alguma conversa sobre o dia, ou sobre os porquês e praquês desse amor. Eu apenas quero dizer ‘te amo’ e ir embora dormir. Por que minha vontade estaria saciada e eu já estaria satisfeito. E nada mais restaria acontecer.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mecanismo

Aqui em mim tenho muitas coisas. Em muitas sou bem pouco. Em outras sou muito. E em certos momentos sou muito demais: exageradamente. Às vezes querem que eu seja pouco ali, ou muito acolá. É que na verdade não sei medir essa intensidade. Não sou eu mesmo que determina o quanto de mim há em cada disso. Nem controlo esse mecanismo. Ele vem por si só.
Até que eu posso querer ser pouco em amar, por exemplo. Ou ser muito em deixar por estar, ou ser pouco no presente instantâneo. Mas se eu tentasse controlar isso não seria de todo eu. Seria só parte. Parte mecanizada. Parte esquematizada de todo o meu processo.
De todo o que sou, na verdade, não sei o que posso controlar. Se tento disfarçar, algo no meu rosto sempre me entrega. É fácil de saber – principalmente por quem me percebe eu: humano. Sou totalmente desprovido: visível a olho nu. Apenas nas horas de necessidade de sobrevivência finjo qualquer sentimento como se eu o cultivasse desde sempre. E nessas horas só quem pode saber que finjo é quem me percebe os olhos. Mas esse mecanismo é falho. Quando mais preciso fingir, quando mais preciso me esconder, quando mais preciso não ser eu: o mecanismo falha. E o que me sobra é perigoso. O que me sobra é ser eu verdadeiramente.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Incontrolável

Nessa manhã me veio uma felicidade inesperada. Como um raio: inesperada. Era manhã de sol que talvez traísse os dias de chuva passados. Era manhã invisível de pensamentos maiores do que se podia ver.
E a felicidade era intensa. Que de rápido eu me entreguei a ela. Ali: tudo que queria estava naquele sentimento. Às vezes me sufocava de tão intensa. E crescia, crescia – intensa. Mantinha essa felicidade guardada por dentro. Apenas meu sorriso de leve anunciava algo. Um sorriso pouco. E de vez em quando meu sorriso se tornava maior que o mundo, pois a felicidade – intensa – pedia pra escapar e respirar fora de mim. Mas tão logo me prendia nessa felicidade e o sorriso voltava a ser pouco. Era que eu queria ter aquela felicidade só pra mim. Num egoísmo dela ser apenas minha. Que cada um busque sua felicidade e deixe: que da minha eu me alimento. Porque faz tempo que não me sentia tão inteiro (intenso!).
E no calor dessa manhã o que eu faço é esperar. Aos poucos a inexperiência de ser feliz passa.