quinta-feira, 28 de novembro de 2013

teus segredos estão salvos
sob tua pele
e as palavras recobertas de invento,
–  sublinguais.

só que percorrem teus vasos sanguíneos
e qualquer corte, um dia:
hemorragia.

sábado, 16 de novembro de 2013

segundos

É uma noite sólida, qual esse sentimento de espera. Seus olhos observam o relógio a cada minuto numa esperança ínfima que o tempo passe mais depressa, mal sabendo ele que quando o tempo é o centro das atenções ele se conforta em preguiça.
A mesa está posta: toalhas, velas, pratos, espaguete, vinho já aberto. Ele espera sentado na sala fumando e a taça já pela metade, o relógio em paisagem e a companhia do tempo. Lembra que amanhã cedo tem que comprar rosas, pois as do vaso já estão morrendo. Pétalas caindo pelo chão por qualquer vento que lhes toque. E pensa o quão difícil será conseguir levantar da cama pela manhã quando seu corpo estiver entrelaçado ao corpo do homem que ama. A possibilidade lhe faz sorrir.
Acende outro cigarro e decide ligar a vitrola e quem sabe os minutos se adiantem. No pescoço traz o colar que ganhou no aniversário, mas que trata mais como amuleto. Só de vez em quando ele acredita em sorte e signos. E nas cartas de tarô, onde viu certa vez todo seu destino por míseros dez reais pagos a uma vidente que aportou na cidade durante uma Festa de Reis. Sua vida será tão feliz, exceto por pequenos tropeços e traições. Mas a felicidade que lhe fora reservada é bem maior que qualquer tristeza.
Os minutos seguiam, talvez, um pouco mais rápidos porque a hora marcada já havia passado e o tempo gosta de brincar com as pessoas, principalmente quando ele nota que os sentimentos começam a se confundir como a ansiedade coberta de alegria que passou a se inflamar em decepção.
Só lhe resta os pensamentos tentando seguir o rastro do atraso, fantasiando desculpas, ora simples ora absurdas, que irá escutar quando abrir a porta; se gritará “poderia ter ligado!!” enraivecido ou esconder a decepção com um “eu entendo...” chocho num sorriso largo e barato. Só lhe resta seus pensamentos sólidos.
Por inúmeras vezes houve apenas pensamentos sólidos como companhia – nada transparente, leve ou compressível. A solidez é um peso concreto.
A essas horas a garrafa de vinho já se encontrava vazia e o último cigarro era aceso. Pela janela via-se o nascer do sol tímido por entre os prédios. O chão cheio de pétalas de rosa e um silêncio. Novamente ele ali: só. “Há coisas que nunca mudam”, pensou. Colocou um disco de tango pra rodar e foi dormir.
Porque há certas coisas que são destinadas a ser.