terça-feira, 9 de novembro de 2010

vômito

Ela tinha ânsia. Algo preso na garganta.
    Chegou em casa as três da madrugada depois de um litro de vodka no mesmo bar dos outros dias da semana. Procurou o que comer rapidamente, mas não tinha nada. Gastou todo o dinheiro durante a semana bebendo todos os dias. Sobraram os cigarros. Ela fumou.
    No quintal as nuvens cobriam a lua, e a mangueira resmungava com o barulho do vento. Fazia frio: frio-de-se-aconchegar. Ela se cobriu com o lençol velho dos dois. E tinha um cheiro de mistura de naftalina e sono. Sono que ele havia deixado.
    Tinha saudades.
    Ele havia deixado o all star verde e o reboco da parede que era feito todo fim de ano, junto com a pintura da casa. Era uma briga na escolha das cores: ela sempre quis verde e ele branco. Acabavam pintando de azul. Sempre.
    Ela tomou um antiemético e um relaxante. Com suco de pitanga que comprava simplesmente para irritá-lo.
    A verdade é que a casa todo fazia com que ela o lembrasse.
    E ela deitou na cama, cobriu-se e chamou o sono. Fechou os olhos para aquele teto desbotado. Ouviam-se os sons de bloco de rua, pois era carnaval. E a escuridão dos olhos fechados trouxe-lhe a boca tudo que estava preso na garganta. Ela rapidamente jogou a cabeça pra fora da cama: ela vomitou lágrimas.

3 comentários:

  1. Caar@# :O

    eu ja disse B. faz um livro! porra tu vai ver cara o quanto vc vai se dar bem, vc é um poeta, artista escritor *O* TUDO ISSO *-*

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  2. adorei a foto vogue ali do lado. adorei.
    sou fã inveterada da diva master.

    e o texto tá muito bom, viu?

    kissyou.

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