terça-feira, 12 de junho de 2012

é um dia, maria

Entra junho e entram os santos. Maria enfeita o terreiro de frente de casa com as bandeirinhas coloridas. Aprega um prego no muro, outro no cajueiro, puxa o cordão dali e outro prego, outro cordão e tudo vai se colorindo.
Já é quase dia de Santo Antônio e só agora é que ela se pôs a enfeitar a casa. É que Maria andava adoentada, de cama por mais de uma semana. Só agora é que botou os pés no chão, pôde enfeitar a casa e botar o santo casamenteiro de cabeça pra baixo. Lá no altar de madeira, o Santo Antônio via Maria de ponta-cabeça rezando de manhã bem cedo, no dormir do sol e no dormir do corpo. E não era de se espantar se ela sonhasse que estava fazendo outra reza.
É que Maria gostava do cheiro das fulô que perfumava a casa, mas queria também o cheiro de outra pele, um xamêgo, um calor atrás da orelha.
Ela não se sentia tão só, mas não se sentia tão muita.
Naquela tarde passou o tempo a cozinhar o milho, amarrar pamonha, cantarolar o forró do rádio, alimentar esperança. A madeira da fogueira já pronta se molhava pela chuva fina de meio de ano. Ela olha pela janela no desejo de que estie. Mas é só chuvisco de sol partido entre nuvens. Logo ele se apodera do mundo.
Forma-se arco-íris.
Agora é lua, são estrelas e o céu limpo. Já dá pra ouvir o barulho dos fogos, o pé-de-serra lá mo palhoção, o cheiro das fogueiras e do milho assando. E já são horas de fim de esperar pelo amor chegar. Maria acende a fogueira pra clarear e se esquentar, senta no tamborete e espera a noite findar. Até lá o Santo Antônio fica de pés no ar pro acaso do amor pedido chegar. E espera, que a esperança sempre lhe vestiu. E não é coisa que se acabe com o apagar da última brasa. Maria tem o coração aceso.

3 comentários:

  1. Lindo, lembra buarque e lembra bethânia.
    Gostei do cheiro, senti cheiro de tudo e da noite.

    Beijo, Bru.

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  2. Esse texto é tão você...
    por isso gostei dele. Acho.
    Sim, por isso gostei dele. Certeza!

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