Nas andanças
dos dedos, e dos olhos (e das linhas que os arrodeiam), há o peso de todo chão
pisado. A pele ressecada pelo sol, de cor queimada de sol, transparece todo o
muito tempo em espera do próprio tempo que não chega. Seus olhos fixos na
janela aberta que da à vista a estrada-sem-fim de terra batida, que nem os olhos
de quem perdeu ao mar e espera que as águas salgadas tragam de volta.
Confunde-se com esperança, mas logo se acostuma à dor. Das mãos que às vezes
não sabem o que fazer ou dos dentes que não sabem mais sorrir.
A vida às
vezes também não sabe o que quer. Há uma flor já despetalada e ressecada no
vaso. Resquícios de outono ou outubro. Já nem se lembra mais. Nem que flor era,
nem que tempo é. Nem a própria flor sabe de si, porque houve um abandono de
tudo, até do sentimento mais absurdo e essencial.
Não há um chão
que conte de seu. Desde pequena, recém-parida, porque veio no sangue, que deu o
nome – nome-próprio – de batismo e de destino. Não é questão de dinheiro, é
coisa de corpo, de não ser, de sina. Por mais alto que seja, nunca haverá nuvens
aos olhos. Por mais morta que esteja, não haverá cova que seja sua. Que nem a
terra grudada nas suas unhas lhe pertence.
E todo chão
que pisa é invasão. Seu único ter é o próprio corpo: latifúndio. E os sonhos –
que os olhos fechados lhe permitem viver.
Um absurdo de lindo!
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