É uma noite
sólida, qual esse sentimento de espera. Seus olhos observam o relógio a cada
minuto numa esperança ínfima que o tempo passe mais depressa, mal sabendo ele
que quando o tempo é o centro das atenções ele se conforta em preguiça.
A mesa está
posta: toalhas, velas, pratos, espaguete, vinho já aberto. Ele espera sentado
na sala fumando e a taça já pela metade, o relógio em paisagem e a companhia do
tempo. Lembra que amanhã cedo tem que comprar rosas, pois as do vaso já estão
morrendo. Pétalas caindo pelo chão por qualquer vento que lhes toque. E pensa o
quão difícil será conseguir levantar da cama pela manhã quando seu corpo
estiver entrelaçado ao corpo do homem que ama. A possibilidade lhe faz sorrir.
Acende outro
cigarro e decide ligar a vitrola e quem sabe os minutos se adiantem. No pescoço
traz o colar que ganhou no aniversário, mas que trata mais como amuleto. Só de
vez em quando ele acredita em sorte e signos. E nas cartas de tarô, onde viu
certa vez todo seu destino por míseros dez reais pagos a uma vidente que
aportou na cidade durante uma Festa de Reis. Sua vida será tão feliz, exceto
por pequenos tropeços e traições. Mas a felicidade que lhe fora reservada é bem
maior que qualquer tristeza.
Os minutos
seguiam, talvez, um pouco mais rápidos porque a hora marcada já havia passado e
o tempo gosta de brincar com as pessoas, principalmente quando ele nota que os
sentimentos começam a se confundir como a ansiedade coberta de alegria que
passou a se inflamar em decepção.
Só lhe resta
os pensamentos tentando seguir o rastro do atraso, fantasiando desculpas, ora
simples ora absurdas, que irá escutar quando abrir a porta; se gritará “poderia
ter ligado!!” enraivecido ou esconder a decepção com um “eu entendo...” chocho
num sorriso largo e barato. Só lhe resta seus pensamentos sólidos.
Por inúmeras
vezes houve apenas pensamentos sólidos como companhia – nada transparente, leve
ou compressível. A solidez é um peso concreto.
A essas horas
a garrafa de vinho já se encontrava vazia e o último cigarro era aceso. Pela
janela via-se o nascer do sol tímido por entre os prédios. O chão cheio de
pétalas de rosa e um silêncio. Novamente ele ali: só. “Há coisas que nunca
mudam”, pensou. Colocou um disco de tango pra rodar e foi dormir.
Porque há
certas coisas que são destinadas a ser.
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