quarta-feira, 17 de março de 2010

Um domingo para sempre - 1

Tinha medo da guerra e da morte, como quase todo mundo, mas medo também do vento, anunciador dos gases, medo de um sinalizador rasgando a noite, medo de si mesmo, que era impulsivo no medo e não conseguia se controlar, medo do canhão dos seus, medo de seu próprio fuzil, medo do barulho dos torpedos, medo da mina que explode e engole todo um destacamento, medo do abrigo inundado que afoga, da terra que sepulta, do melro perdido que faz passar uma súbita sombra diante dos olhos, medo dos sonhos em que sempre se acaba estripado no fundo de um buraco, medo do sargento que está louco para explodir os seus miolos porque não agüenta mais de tanto gritar com você, medo dos ratos que o esperam e, como aperitivo, vêm farejá-lo enquanto você dorme, medo de piolho, de chato e de recordações que chupam o seu sangue, medo de tudo.

Um Domingo para Sempre - 1991
Sébastien Japrisot

Um comentário:

  1. Que texto hein!
    Noooooooooooossa! pobre do autor XD
    tem tudo a ver com o que zé postou recentemente no blog dele
    abração bruninhuuuuu
    ahazzando como sempre

    ResponderExcluir

vírgula