segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tomara

Eu respiro bem fundo. Daquelas respirações de olhos fechados onde você se sente protegido do mundo. Mas quase não me entra ar, pois estou cheio. Não me entra comida direito, não me entra amor, não me entra quase nada, pois estou cheio. E preciso primeiro esvaziar para que algo novo, ou mesmo antigo, caiba em mim.
O que tenho aqui é um choro de tão antes. Cada coisa me acumulava um punhado de lágrimas. Coisas às vezes tão antigas que não me lembro mais o que foram. Não sei bem porque retenho tanto choro. Apenas sei que passei por várias coisas aonde o choro me veio na ponta da língua e sem razão eu o engoli.
Tem horas que penso que não agüentarei e vou cair no meio da rua em prantos. E que quando me perguntarem o porquê, direi: “estou apenas me deixando esvaziar, me derretendo nesse asfalto”. Não, isso não seria ruim. Porque aí eu estaria tão vazio de tristezas que poderia respirar tão mais e sentir o mundo tão (tão) mais. Levantaria talvez mais forte do que agora, talvez mais feliz do que agora, talvez mais eu do que agora.
E o que eu mais quero é ser apenas eu.

2 comentários:

  1. Sempre é bom esvaziar o nosso eu para sermos nós mesmos. Lembrei-me do meu texto "Cansaço". Também estive cheio deste jeito. Me esvaziei no chão frio do canto esquerdo do banheiro. Triste, mas necessário.

    ResponderExcluir
  2. bonito. se dar o direito de fazer uma espécie de auto-catarse nem sempre é fácil.
    acho que perdi essa capacidade.

    ResponderExcluir

vírgula