sexta-feira, 27 de abril de 2012

natimorto

Henry Ford Hospital (La Cama Volando) - Frida Kahlo - 1932
Quão triste é ver um filho morto enquanto ainda sai de meu próprio corpo. Ainda banhado no líquido das vísceras, ainda levando-as apregadas. Parece inútil o esforço que fiz para contrair, para a respiração, para o sopro de sangue que lhe dei.
Houve a morte pelo próprio umbilical ou a infecção pelo que é vida.
E agora, padece ali o já fétido resto. Não o enterro. Não há necrológio. Guardo-o, impróprio. Na terceira gaveta, pois ainda é parte de mim. Até que haverá o dia que não exalará mais catinga.
Não é a primeira vida que meu corpo aborta por não sustentar.

5 comentários:

  1. "Não é a primeira vida que meu corpo aborta por não sustentar."

    Isso calou fundo em mim.
    Lindo, Bruno.

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  2. Nossa. Eu procurei no texto e, não convencida, tenho de perguntar é realmente seu?
    ´
    E brilhante como domina os sentimentos da não-realizada mãe com perfeição. Meus parabens (se é que tal palavra cabe aqui)

    um beijo terno,

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  3. Intenso, assim como o Marcelo, também me impressionei com a última frase. Pensamento voa...

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