sexta-feira, 13 de setembro de 2013

fuga

Disseram-lhe que era Pink Floyd que tocava no som do carro. Ela fechou os olhos, a cabeça ali, como que o peso dos pensamentos houvesse sido extirpado. Corria-se a mais de 100 km/h entre faróis e sinais. A noite era longa como um passo sem destino em sentido ao concreto. Corre os ponteiros do carro e dos relógios na velocidade do sangue pelas veias que nas artérias é contramão o sentimento – sangue alcoólico e inflamável: não o deixe corroer que mais difícil é a ferida.
A menina dança em transe dentro de si. Coração a bater. Ela sente frio nesse inverno que respinga, mas tem as mãos aquecidas por outras mãos que, não diria serem alheias, já que quase são extensão de si. E ainda há essa dança, a coisa mais leve que quase flutua, que quase lhe salta e voa, mas permanece no limite da pele e lhe causa esses sorrisos mínimos que parecem vivos e sonhos.
Aonde há espaço na mente, mas não diria realmente que isso exista. Nunca existiu. Há uma cabeça repleta na qual as coisas forçam espaço para se encaixar. Mas agora não pesa.
Fumaça nos olhos e pelos pulmões.
Ela está entregue, com seus dentes amarelos. Um coração acelerado. Se alguém gritar será um assobio. Pela janela há luzes correndo feito vagalumes, de imóvel só o real, o que fica. Hoje é um estado em movimento – dentro e fora. É perceptível o mínimo movimento das articulações mesmo quando não há. Porque não há. É o sentido de algo que fala no corpo e o que ela pensa é mais um pensamento, um próprio delírio. Tudo é dentro. É interno e límpido.
E ela solta a fumaça que tragou como se último suspiro, anuvia a vista e cai no próprio espaço de volta. Ela nunca esteve tão perto.

Um comentário:

vírgula