Eu vi uma
nuvem hoje, Helena. Parecia uma construção antiga, arquitetura grega, imperiosa
no espaço do céu. E então me lembrei de você, como sempre lembro ao ver
qualquer coisa relacionada à Grécia. Mas lembrei também porque havia o céu.
Não sei ao
certo, minha querida, quando as coisas começaram. Não me lembro bem nem quando
começaram a mudar. Me lembro de como ríamos e dos apelidos e das mensagens que
enviávamos um ao outro. Ainda tenho todas guardadas, infelizmente. Porque em
momentos como esse em que minha cabeça duvida, elas me são provas concretas do
que eu não queria.
Você deixou
passar o tempo em que gostava de me acompanhar por ai, em que me pedia para
ficar para sempre, quando não fazia questão do mundo. Havia segredos que me
eram contados ao pé do ouvido, assim como os não-segredos. Também não posso
dizer que continuei o mesmo. Fiquei mais sólido, inseguro, por vezes escuro ao
ponto de não saber de mim. E quando aquela paz bruta que nos consumia começou a
evaporar-se, vieram também as guerras daquelas que te destroem pouco a pouco e
sempre – sempre – deixam cinzas.
Da primeira
vez que pensei em esquecer o que éramos acho que enlouqueci um pouco, uma culpa
cortante passou a bisbilhotar os momentos de silêncio do meu pensamento. Como eu
pude pensar em desistir de tudo o que era?! Da segunda vez e depois já não
parecia estranho, era como pensar em te amar. E quando se começa a imergir,
dificilmente consegue-se respirar novamente.
Hoje eu fui
embora. Aproveitei que a noite vai ser fria e chuvosa para poder ir sem
arrependimentos. Cansei de me esforçar para te compreender ou para me fazer
entender, cansei de hastear bandeira branca e do silêncio nas refeições. Cansei
de ver teus lados mais obscuros. Conseguiria fazer uma lista imensa de tudo o
que estou estafado e sei que você assinaria embaixo. Você só não teve coragem
para partir.
Espero que
quando o acaso vier a cruzar novamente nossos caminhos em um bar qualquer ou
nas esquinas das ruas que adoramos vagar sem destino, possamos sorrir e contar
as novidades sem desconfortos, falsidades ou estranheza. Porque eu amo teu sorriso
sincero. Aliás, eu te amo Helena. Adeus.