quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O instante da mulher

A mulher ativa acorda num domingo de ilusão.
Ela pena com seus passos lentos. E a casa é fria.
A mulher calada passeia pelos restos da noite no chão da casa, pelos corpos dormindo jogados.
A mulher nua sente o cheiro do sexo da noite.
A casa se mantém calada, a penumbra.
A casa é amarela. E queima feito sol.
A mulher que se espreguiça. Cansada – ela é cansada da vida de mulher.
A mulher passiva ainda ama. Ama quem não a ama mais.
Alguém acorda e a beija.
Há resto de querer-bem.
A mulher passiva é amada. Cobre-se com os lençóis no sofá e com os sonhos bons da noite. O resto de vodka.
Bebe o resto de vodka.
A mulher amada é quase vazia.
A janela da porta mostra a claridade do dia. A mulher quase vazia vê do terraço o mundo. A mulher quase vazia respira o ar de domingo.
A mulher ativa quer aquele domingo para ela. Ela sorri. E ativa, ela veste-se e sai, porque o mundo, ela sabe: é seu.

Um comentário:

  1. "A casa é amarela. E queima feito sol."

    é minha!!! rs
    tô na onda da micronarrativa. Embarca comigo?

    ResponderExcluir

vírgula