segunda-feira, 28 de março de 2011

a mulher violentada

Irréversible (2002)
Ela caiu na poça de água da chuva no chão do beco quase escuro. Um poste ainda iluminava as latas de lixo que de tão cheias esparramavam os restos. Seu nariz sangrava e ela bebia o próprio sangue, e as próprias lágrimas. Ela estava suja da lama formada pela chuva. Estava suja das mãos do homem insano que lhe bateu para que ela parasse de chorar e suplicar enquanto ele rasgava sua roupa com a violência de um cão. Suja daquelas mãos fedidas a cigarro barato que passeou entre seus cabelos loiros e deslizou pela sua face numa tentativa de carinho. Todo o corpo doído, marcado – vermelho – arranhado. Sujo do prazer final do homem.
    Ela nunca havia entregado seu corpo nem seu coração a ninguém. E agora nada parecia ser mais seu. E agora, via apenas o lixo de um beco quase escuro e o chão molhado da chuva. Apesar da vontade de gritar toda aquela dor que sentia, não conseguia. Não tinha força nem para se levantar do chão imundo.
    Sua alma estava mais ferida. Ela que acreditou naquele homem, que o amou. Ele que disse a amar só para tê-la em suas mãos, ao seu alcance. Ele aproveitou da condição de homem amado para roubar da mulher sua carne ainda intocada.
    Ela caída sem forças; pensou no amor. Pensou que nunca esqueceria aquela dor carnal e cortante. Seu coração violentado, seu corpo violado.

7 comentários:

vírgula