quarta-feira, 31 de outubro de 2012

frevo de nara

De lá do alto da ladeira vem descendo o colorido anunciado em estandarte. São amarelos e confetes e serpentinas que pintam o céu e plumas e azuis. Vem descendo as fantasias cheias de alegrias e aquelas tristezas indissolúveis de carnaval. Para cada sorriso, um dente é desilusão.
Descem as mulheres com seus vestidos bordados, em lantejoulas e paetês. As mãos espalmadas ao vento e nas sapatilhas que recobrem os pés deslizam em lirismo.
Entre todas, está Nara. Seguindo e rodopiando pelo frevo e o asfalto. Nara, tão branca e de cabelos tão negros quanto o céu dessa noite, às vezes se perde entre a melodia que entra e que sai ou no girar daqui que dá em passo pra lá. Em seu peito há um coração tatuado. Contração sincopada.
Os postes iluminam de quase-nada as ruas emaranhadas que agora se recobrem de paralelepípedos. Entre os meios-fios: o bloco e Nara de sorriso breve. Só avista os coloridos das casas enfileiradas, entre os olhos que observam, e seus pensamentos flutuantes de lembrança. Houve um beijo roubado naquele baile da Rua São Domingos. Ela numa máscara veneziana e ele brincando de papangu. Sua mão leve.
Agora, o bloco segue sozinho em meia-luz dobrando a esquina. Agora, Nara segue em nuvem. Ela chora enquanto canta o frevo entoado pela orquestra de pau-e-corda. Há um frevo de saudade.

Um comentário:

  1. Nara segue sem as nuvens incandescentes descendo ladeira abaixo, suas dores de amar errado, de desacontecer por dentro, qualquer resquício de saudade desabotoando instantes. Em qualquer ritmo.

    Beijo na alma,
    Sam.

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