quarta-feira, 8 de junho de 2011

tua casa vazia

Quem quer sol num dia daqueles onde as coisas pareciam querer reviver. Foi quando ela entrou aberta na casa que um dia já havia sido sua. Pouca coisa havia mudado, só as fotografias que não permaneciam as mesmas para evitar lembranças desnecessárias. Ela entrou acanhada, silenciosa, com um sorriso tímido enquanto ele não sabia para onde olhar.
    Sentaram-se na mesa branca no quintal florido pelas rosas. Ofereceu-lhe café recém passado e olho-a indecifrável. Silêncio de dois. Cada qual penetrava seu olhar nos olhos do outro, perdidos no instante e nas lembranças.
    E nas lembranças, foi quase uma premonição quando ele gritou que ela um dia voltaria implorando pelo seu amor novamente. Os gritos dele enquanto caía no chão sem forças agarrando-se a parede em meio ao silêncio dela. Cena que ninguém imaginaria, nem ele mesmo. Não era de explosões ou arroubos, mas todo aquele momento foi demais para ele. Ela saindo indiferente.
   E lá estava ela: desiludida, desamparada, desarmada, destruída. Coração apertado de amor contido esperando o perdão. Mas ele não era mais o mesmo, as coisas mudam. Tanto sofrimento na casa vazia, escura, triste, na casa construída para dois, no coração decorado para dois. As coisas mudam; “a gente muda”. O amor passa, a dor vai se desmanchando. As coisas mudam.
   Ela segurou a mão dele imóvel sobre a mesa. Ele ainda perdido em lembranças. Ela perdida nas palavras – o que dizer? Não disse nada. Apenas uma lágrima solitária. E sua mão segurou na dele com tanta força, como se sentisse tanta dor, que o fez retornar ao momento. Ele desvencilhou a mão implorante e acariciou-lhe o rosto – sem amor.
    Naquela noite ela dormiu na cama do quarto vazio depois do jantar e do banho que a fizeram parecer mais com a mulher que um dia ocupou aquela casa. Ele a abrigou e deu-lhe comida, mas o amor que ela tanto queria não podia mais ser dado. Aquele amor só existia nela, um restante de amor.

Um comentário:

  1. O amor é assim mesmo.
    É lindo, é vivo, mas é mui transitório e perigoso.
    Principalmente porque se transforma facilmente pra desamor e evolui como jato para o ódio, indiferença, repúdio.


    Beijo em vocÊ

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