sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

serendipite

por Francisco Barreto (15/09/09)
Quando você descobre coisas, talvez inimagináveis, apenas por um acaso, como na procura por sua carteira, acha debaixo da cama um anel perdido há tempos, ou olhando documentos encontra fotografias que nem sabia que ainda existiam e que te trazem recordações doces.
   Ou olhando as nuvens para saber se irá chover ou não e vê uma pipa multicolorida passeando pelo céu.
É encontrar algo que não se procura.
    Há séculos atrás havia um reino chamado Serendip, governado por um rei que tinham três filhos. O rei decidiu testar a sabedoria de seus filhos e disse-lhes que iria se retirar do trono, deixando-os governando o reino. Os príncipes recusaram o trono afirmando que o pai era o mais sábio e que ele iria governar melhor o reino que qualquer outra pessoa.
   O rei sentiu-se inteiramente feliz pela decisão dos filhos, mas ainda tinha dúvidas. Achava que a recusa foi por mera educação e não por sabedoria: assim enviou os príncipes em uma viagem a reinos distantes. Os príncipes, cruzando terras desconhecidas, fizeram várias descobertas – por acidente (ou acaso) ou por sabedoria – descobertas felizes.
   Em 1754, ao descobrir uma pintura da condessa de Toscana, Horace Walpole escreveu para seu amigo, Horace Mann, relatando o que achou. Na carta explicava que leu o conto “Os três príncipes de Serendip” e baseado nele, chamou a descoberta de serendipite, pois não havia melhor definição para ela: não havia palavra mais expressiva.
   Serendipite é encontrar um vendedor de algodão doce quando você passeia pelas ruas sem destino num dia amargo; quando à espera do ônibus encontra um desconhecido que irá ser a melhor pessoa da sua vida; quando no meio da cidade cinza você encontra flores quebrando o silêncio das cores.
    São pequenas coisas, pequenas descobertas felizes. É o acaso colocando algo que não é esperado no seu caminho. É encontrar coisas (pessoas) essenciais, mágicas, infinitas, doces: simples.

para Roberto e Otávio (serendipites)

4 comentários:

  1. Ser um príncipe ou matar mil dragões? Ter cautela ou seguir furacões? Você é aquele moço da corte com a roupa mais elegante, um guerreiro nórdico que tem nojo de baratas mas enfrenta os piores gigantes. Me senti príncipe pela homenagem, gratíssimo meu lindo. O adoro.

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  2. Não sei o porquê, mas eu gostei deste texto. Gostei mesmo.

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  3. "São pequenas coisas, pequenas descobertas felizes." É exatamente essa frase desse seu texto que define a minha reação à sua leitura. Muito bom.
    Uma descoberta feliz =)

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