domingo, 22 de janeiro de 2012

a rita

A menina pintou seus cabelos de vermelho, pegou a guitarra empoeirada e saiu. Em seu rosto um coração se pintava, em sua mão, o coração; em seu peito-vermelho. O vestido branco de noiva que usava arrastava algumas pedras pelas ruas de paralelepípedos desalinhados. O céu nublado que poderia chover mesmo que o sol se estampasse em seu sorriso.
    Caminha noturna a menina cor-de-sangue-amor. Seus passos inquietos. Incontáveis olhos de mercúrio a observavam e a julgavam naquele passar. Podem ser já as horas do fim da tarde, marca o relógio de vinte e dois rubis. Seu coração avoa em fuga, entre carros que passam pelo sinal vermelho. Ela corre pela cidade cinza que se traduz nela, em sua pele branca de vida, em seu pulso incógnito.
   Quatrocentos cruzeiros leva no bolso, mais as chaves do apartamento, um beijo, seu fruto proibido. Eu sei das horas que são, mas essa cidade parece acordar ou viver apenas agora. Os jogos da calçada, pintasse o chão de seus pés. Ela não liga, ela se inclina.
    O vento dá vida aos seus cabelos encobertos pelo véu. Ela fecha os olhos e ouve os sussurros do mundo. E sussurra.
    Hoje é dia 36.
   Seu coração de sal de fruta em copo d’água. Rota de seus olhos dentre pele, rota alterada: corre (corre). Envereda pela lua ativa que se supõe entre as nuvens escuras. Quais estrelas são seus dedos que se vestem em fantasias na melodia desenhada em sua epiderme – transparece.
    Roda o tempo, roda a menina, lança o perfume, roda a cidade, a cor cinza, seus cabelos em labirinto. Suas mãos se seguram e os pés dançam para não dançar na grande avenida: há sua chance, sua sorte, a saída. Ela enrosca-se à chuva que lhe lambe. A língua que beija a própria saliva.
    Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida.
    (Algo mais?)
p.s. desculpem essas linhas tortas

Para a paixão da minha existência atribulada

3 comentários:

  1. Não peça desculpa. Escreva.

    Gosto da tua forma de contar histórias.
    E viva a paixão.

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  2. A Rita é a liberdade e estimula todos a viverem e a deixarem os outros viverem também. Um abraço!

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  3. Rita como sempre é um exemplo de mulher. Ótimo texto, Bruno. Abração!

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